O mito dos 70%
Levantamento da EPE mostra que apenas 4% dos proprietários de flex decidem pelo uso do etanol por convicção ambiental. A escolha do combustível na maioria dos casos é feita considerando os preços dos combustíveis e uma relação de paridade de custos operacionais, que estabelece a condição de indiferença no uso de um ou outro combustível. De forma generalizada é assumido que só vale a pena abastecer o carro flex com etanol quando este custar até 70% do preço da gasolina. Esse valor limite amplamente divulgado e aceito sem discussão pelos consumidores se baseia na relação entre os poderes caloríficos dos dois combustíveis (ou seja, o conteúdo energético em um mesmo volume). Essa referência, no entanto, não reflete a realidade, por diversas razões:
- A especificação da gasolina mudou ao longo dos anos, notadamente no que respeita o percentual de etanol anidro aditivado que variou entre 18% e 27%;
- Parte do princípio que a eficiência dos motores é igual quando usam um ou outro combustível, o que é refutado pelas medidas feitas pelo INMETRO (dos flex comercializados em 2015, a eficiência no uso do etanol vaia muito podendo ser até 8% maior ou 7% menor);
- Assume que a eficiência energética dos dois combustíveis é igual quando, na verdade, o etanol, apesar do menor conteúdo energético, pode ser um combustível consideravelmente mais eficiente se usado de forma adequada ;
- As condições controladas em que são avaliados os consumos dos carros são muito diferentes das observadas na prática onde outros fatores, como temperatura ambiente, habilidade do motorista, calibragem de pneus etc. têm um grande peso, podendo aumentar em até 30% o consumo.
Um levantamento do consumos em condições de campo feitos por uma administradora de frotas em 2013 (e auditada pela KPMG), em centenas de milhares de carros revelou uma paridade média próxima de 80% nos carros flex.
Ano de fabricação | Paridade de preços média (EH/Gasolina) |
2004 | 0,772 |
2005 | 0,785 |
2006 | 0,786 |
2007 | 0,791 |
2008 | 0,790 |
2009 | 0,805 |
2010 | 0,807 |
2011 | 0,790 |
média aritmética ponderada | 0,795 |
A revista Autoesporte, ao avaliar oito modelos comuns de automóveis encontrou consumos de etanol em média 11% inferiores aos apresentados pelo programa de etiquetagem, com desvios entre 20,5 a 4,9%.
Para eliminar esse equívoco será oportuno estimular os consumidores a medirem os consumos relativos de seus carros nas condições normais de uso. Iniciativas simples, como a criação de um site em que os motoristas apresentem e divulguem as medidas feitas em seus carros será de grande utilidade.