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O Uso de Diesel em Veículos Leves Vai ser Reduzido

qua, 07/10/2015
Autor(es): 

Pietro Erber - Diretor do INEE

O recente noticiário sobre os efeitos negativos do consumo de óleo diesel em motores de pequeno porte, como aqueles usados no acionamento de veículos leves, sugere, de imediato, as seguintes observações:

  • A venda de veículos leves a diesel, desejada e mesmo preconizada por alguns agentes do mercado automotivo, ainda vedada, fica prejudicada. Embora mais eficientes do ponto de vista energético e, portanto, emitam menos CO2 por km rodado, o prejuízo devido ao elevado nível de emissões de NOx soma-se à carência de oferta desse combustível produzido no país, o que exige a sua importação.

 

  • Tanto na Europa, onde quase a metade dos veículos leves vendidos nos últimos anos são acionados a diesel, quanto nos EUA e na China, os esforços no sentido de reduzir as emissões de CO2 terão de seguir nova rota, que não a do diesel. Embora possível, a redução das emissões de NOx envolveria custos elevados. Portanto, tornaria os veículos muito mais caros.

 

  • A perspectiva de significativa carência de oferta de gasolina nos próximos anos não deveria favorecer o maior uso de diesel nos veículos leves, tanto pelo seu efeito ambiental quanto porque oneraria o país pela necessidade de aumentar as importações desse combustível.

 

  • As opções mais evidentes no tocante à redução das emissões de CO2 dos veículos leves são o aumento da eficiência dos motores de ignição por centelha, a difusão do acionamento híbrido, o acionamento elétrico e o emprego de etanol e outros combustíveis renováveis.

 

  • Não se pode deixar de observar que a redução do uso dos veículos leves, sobretudo dos carros de passageiros, também contribuirá para reduzir aquelas emissões. Os meios mais eficazes serão a maior disponibilidade de transportes públicos, o aumento de velocidade média daqueles de superfície, além da eletrificação de seu acionamento. 

No âmbito do PrEE – Programa Etanol Eficiente, interessa particularmente a oportunidade de expandir a utilização do etanol nos veículos leves, graças ao aumento da eficiência de seus motores. Mesmo sem que se recorra a tecnologias mais caras do que a do ciclo Otto convencional, o etanol, misturado ou não com gasolina, contribui para reduzir as emissões de CO2, por constituir um produto renovável de baixa pegada de carbono, e não apresenta o inconveniente de aumentar as de NOx, que prejudicam o uso do diesel.

Nenhuma das opções para o acionamento de veículos leves exclui as demais. No Brasil, o uso do etanol já tem condições vantajosas em relação àquelas observadas em outros países, como ampla rede de distribuição, veículos flex, portanto adequados para o uso de misturas com gasolina com teores elevados de etanol, além da elevada e crescente participação de veículos flex na frota nacional. Nos próximos anos, a escassez da gasolina deveria ser compensada, pelo menos em parte, pelo uso de etanol.

Já em outros países, especialmente na Europa, onde o consumo de diesel é elevado e a produção local de etanol escassa, há um mercado potencial a considerar. A União Europeia consumiu cerca de 100 Mtep de gasolina e de 300 Mtep de diesel em 2010. Também utilizou cerca de 6 Mt de compostos de éter (ETBE, MTBE, etc) como aditivos oxigenantes e antidetonantes na gasolina, que poderiam ser substituídos por etanol.

Depois de ter eclodido o problema das emissões de NOx decorrentes do uso de diesel, que assumiu uma dimensão imprevista e grave, seu consumo será reduzido gradualmente, seja pelo aumento da participação dos carros a gasolina nas vendas de carros novos, seja por medidas de eficiência, como a utilização de sistemas híbridos, além de carros elétricos e maior uso de outros meios de transporte.

Estima-se que nos próximos cinco ou seis anos o consumo de gasolina na Europa aumente cerca de 30% e, portanto, a necessidade de aditivos também aumente, possivelmente para 8Mt. Grosso modo, representaria um mercado da ordem de 10 bilhões de litros de etanol. Note-se que o etanol produzido a partir da biomassa, tem vantagem ambiental em relação aos aditivos ora utilizados na Europa, de origem não renovável.

Outro fator de aumento da representatividade do etanol na matriz energética automotiva será o aumento de sua proporção na mistura com gasolina que está sendo prevista nos EUA. Não que isso constitua, necessariamente, um mercado potencial para o etanol brasileiro, mas confere maior visibilidade ao produto e poderá despertar a emulação em outros países, particularmente da América Latina, além de outros produtores de cana de açúcar.

Em suma, a provável redução do uso de diesel em veículos leves, em outros países, cria novas perspectivas para a expansão do consumo de etanol e, possivelmente, de sua exportação, tanto como substituto de gasolina como de aditivos oxigenantes e antidetonantes.

Pietro Erber, Diretor do INEE
Pietro Erber, Diretor do INEE